31.12.21

A Carta aos Hebreus e a Nós

Lição 1, 25 a 31 de Dezembro


Sábado à tarde

VERSO ÁUREO: “Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Hebreus 10:36

LEITURAS DA SEMANA: Hebreus 2:3, 4; 1 Pedro 4:14, 16; Hebreus 13:1-9, 13; 1 Reis 19:1-18; Hebreus 3:12-14; Números 13

Já imaginou como seria ouvir a Jesus, ou um dos apóstolos, pregar? Temos partes escritas e resumos de alguns dos seus sermões, mas estes textos apresentam apenas uma ideia limitada do que foi dito. No entanto, Deus preservou nas Escrituras pelo menos um sermão completo: a carta de Paulo aos hebreus.

Paulo, autor de Hebreus, referiu-se à própria obra como “exortação” (Hebreus 13:22). Esta expressão era usada para identificar o sermão, tanto na sinagoga (Atos 13:15) como no culto cristão (1 Timóteo 4:13). Argumenta-se então que a carta aos hebreus é o primeiro “sermão cristão completo” que temos. Esta carta foi dirigida aos crentes que aceitaram Jesus, mas depois passaram por dificuldades. Alguns foram insultados e perseguidos publicamente (Hebreus 10:32-34), e outros enfrentaram problemas financeiros (Hebreus 13:5, 6). Por isso, muitos estavam cansados e começaram a questionar a sua fé (Hebreus 3:12, 13). Alguém no presente se identifica com eles?

Num sermão comovente, o apóstolo desafiou-os (e, por extensão, desafia-nos a nós) a perseverar na fé em Jesus e fixar os olhos Naquele que está agora no santuário celestial.

Domingo, 26 de Dezembro

Um Início Glorioso

Para compreender o sermão e aplicar a sua mensagem a nós mesmos, precisamos entender a história da congregação e a sua situação quando recebeu a carta do apóstolo Paulo.

1. Leia Hebreus 2:3, 4. Qual foi a experiência dos primeiros leitores de Hebreus quando se converteram?

Esta passagem indica que a audiência de Hebreus não tinha ouvido o próprio Jesus pregar. Eles receberam o evangelho através de outros evangelistas que lhes anunciaram as boas-novas da salvação.

Paulo também disse que os evangelistas lhes confirmaram a mensagem e que o próprio Deus tinha testemunhado “sinais, e milagres, e várias maravilhas”. Isto significa que Deus providenciou a confirmação do evangelho por sinais e obras poderosas – entre elas a distribuição dos dons do Espírito Santo. O Novo Testamento relata que sinais, como curas milagrosas, exorcismos e o derramamento de dons espirituais acompanhavam com frequência a pregação do evangelho.

No início da igreja, Deus derramou o Seu Espírito sobre os apóstolos em Jerusalém para que anunciassem o evangelho em línguas que não conheciam e fizessem milagres (Atos 2; 3). Filipe fez maravilhas em Samaria (Atos 8), Pedro em Jope e Cesareia (Atos 9; 10), e Paulo no seu ministério na Ásia Menor e na Europa (Atos 13–28). Estas acções confirmaram a mensagem de salvação – o estabelecimento do reino de Deus, a salvação da condenação e a libertação do poder do mal (Hebreus 12:25-29).

O Espírito deu aos primeiros crentes a convicção de que os seus pecados tinham sido perdoados; assim, não temiam o juízo e, como resultado, as suas orações eram ousadas e confiantes, e a sua experiência religiosa, alegre (Atos 2:37-47). O Espírito também libertou os escravizados pelo mal, o que era evidência convincente da superioridade do poder divino sobre as forças malignas e revelava que o reino de Deus tinha sido estabelecido na vida deles.

Qual é a história da sua conversão? De que maneira foi confirmado na fé e na crença em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor? Faz bem lembrar como Deus trabalhou na sua vida para o trazer a Ele?

Segunda-feira, 27 de Dezembro

A Luta

Quando os crentes confessaram a sua fé em Cristo e se uniram à igreja, estabeleceram uma marca divisória que os distinguia do resto da sociedade. Infelizmente, isso tornou-se uma fonte de conflito, porque emitia implicitamente um julgamento negativo sobre a sua comunidade e os seus valores.

2. Leia Hebreus 10:32-34 e 13:3. Qual foi a experiência dos leitores da carta de Hebreus depois da sua experiência de conversão?

É muito provável que os leitores de Hebreus tenham sofrido ataques verbais e físicos nas mãos de turbas incitadas por oponentes (At 16:19-22; 17:1-9). Foram presos e é possível que também tenham sido espancados, pois os oficiais tinham poder de autorizar punições e encarceramento, muitas vezes sem seguir as normas judiciais adequadas, enquanto reuniam evidências (At 16:22, 23).

3. Leia Hebreus 11:24-26 e 1 Pedro 4:14, 16. Como as experiências de Moisés e dos leitores de 1 Pedro ajudam a entender por que os cristãos eram perseguidos?

“Ser desprezado por causa de Cristo” significava identificar-se com Cristo e suportar a vergonha e o abuso que essa associação implicava. A animosidade pública contra os cristãos era resultado de seus compromissos religiosos distintos. Pessoas podem ficar ofendidas por práticas religiosas que não entendem ou por aqueles cujo estilo de vida e moral podem fazer outros se sentirem culpados ou envergonhados. Em meados do primeiro século d.C., Tácito considerou os cristãos culpados de “ódio contra a humanidade” (Alfred J. Church e William J. Brodribb, trad., The Complete Works of Tacitus [Nova York: The Modern Library, 1942], Annals 15.44.1). Não importa qual tenha sido a razão para esta falsa acusação, muitos dos primeiros cristãos, como aqueles a quem Paulo escreveu a carta aos hebreus, sofriam pela sua fé.

Todos sofrem. No entanto, o que significa sofrer por causa de Cristo? Quanto do nosso sofrimento é por causa de Cristo e quanto é causado pelas nossas próprias escolhas?

Terça-feira, 28 de Dezembro

Mal-estar

Os leitores de Hebreus conseguiram manter a sua fé e compromisso com Cristo, apesar da rejeição e perseguição. O conflito, no entanto, cobrou o seu preço. Eles lutaram e saíram vitoriosos, mas também cansados.

4. Leia Hebreus 2:18; 3:12, 13; 4:15; 10:25; 12:3, 12, 13; 13:1-9, 13. Quais foram alguns dos desafios que os crentes enfrentaram?

Os cristãos continuaram a ter dificuldades. Ataques verbais e provavelmente outros tipos de ataques contra a sua honra continuaram a acontecer (Hb 13:13). Alguns estavam na prisão (Hebreus 13:3) – algo que pode ter esgotado a igreja financeira e psicologicamente. Estavam cansados (Hebreus 12:12, 13) e podiam facilmente desanimar (Hebreus 12:3).

Passado o ânimo da vitória, é comum entre as pessoas e comunidades que as defesas psicológicas e de outros tipos enfraqueçam e se tornem mais vulneráveis ao contra-ataque de inimigos. É mais difícil reunir uma segunda vez a força que uma pessoa ou comunidade mobilizou para enfrentar uma ameaça iminente.

5. Leia 1 Reis 19:1-4. O que aconteceu com Elias?

“Mas uma reação como a que freqüentemente segue elevada fé e gloriosos sucessos estava exercendo pressão sobre Elias. Ele temeu que a reforma iniciada no Carmelo não fosse duradoura; e a depressão se apoderou dele. Havia sido exaltado ao topo do Pisga; agora estava no vale. Enquanto sob a inspiração do Onipotente, ele tinha resistido à mais severa prova de fé; mas neste tempo de desencorajamento, com a ameaça de Jezabel soando-lhe aos ouvidos, e Satanás ainda aparentemente prevalecendo mediante a trama desta ímpia mulher, ele perdeu sua firmeza em Deus. Havia sido exaltado acima da medida, e a reação foi tremenda. Esquecendo-se de Deus, Elias fugia mais e mais, até que se encontrou num árido deserto, sozinho.” Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 79

Pense nas suas falhas na vida cristã e tente entender as circunstâncias e os factores que contribuíram para o colapso. O que podia ter feito diferente?

Quarta-feira, 29 de Dezembro

Encorajando Uns aos Outros

O que aconselhou o apóstolo que os leitores fizessem perante a situação que enfrentavam? O que aprendemos com Hebreus? Além disso, analisemos como Deus ajudou Elias a se recuperar da experiência de desânimo.

6. Leia 1 Reis 19:5-18. O que fez Deus para restaurar a fé do profeta Elias?

A maneira como Deus tratou Elias depois do que aconteceu no Carmelo é fascinante, pois mostra o terno cuidado e a sabedoria com que Ele ministra aos angustiados, que lutam para recuperar a fé. O Senhor fez várias coisas por Elias. Primeiro, cuidou das suas necessidades físicas, dando-lhe comida e descanso. Depois, na caverna, reprovou-o gentilmente: “Que fazes aqui Elias?” Assim, ajudou o profeta a ter uma compreensão mais profunda de como o Senhor trabalha e cumpre os Seus propósitos. Deus não estava no vento, no terremoto nem no fogo, mas numa voz mansa e suave. Então, deu a Elias uma obra a fazer e tranquilizou-o.

7. Leia Hebreus 2:1; 3:12-14; 5:11–6:3 e 10:19-25. O que sugeriu Paulo que os crentes fizessem?

Em Hebreus, há várias instruções do apóstolo aos leitores para os ajudar a recuperar a sua força e fé originais. Um aspecto que o autor enfatizou é cuidar das necessidades físicas dos seus irmãos na fé. Ele sugeriu que praticassem hospitalidade e visitassem os presos, o que implicava prover às suas necessidades. O apóstolo exortou os leitores a ser generosos, lembrando que Deus não os abandonaria (Hebreus 13:1-6). Paulo também os reprovou e encorajou. Ele advertiu-os a não se afastarem gradualmente (Hebreus 2:1), a não ter “coração mau e infiel” (Hebreus 3:12) e encorajou-os a crescer na sua compreensão da fé (Hebreus 5:11–6:3). Também comentou sobre a importância da frequência constante às reuniões da igreja (Hebreus 10:25). Em resumo, sugeriu que permanecessem unidos, encorajando uns aos outros e estimulando o amor e as boas obras, mas também exaltou Jesus e o Seu ministério no santuário celestial em favor deles (Hebreus 8:1, 2; 12:1-4).

Quinta-feira, 30 de Dezembro

Estes Últimos Dias

8. Leia Hebreus 1:2; 9:26-28; 10:25, 36-38 e 12:25-28. Que ponto enfatizou Paulo, especialmente em relação ao tempo?

Há um elemento muito importante destacado pelo apóstolo que acrescenta urgência à sua exortação: os leitores estavam a viver nos “últimos dias” (Hebreus 1:1) e as promessas estavam para se cumprir (Hebreus 10:36-38). É interessante, como veremos, que em todo o documento Paulo comparou a sua audiência com a geração do deserto diante da fronteira de Canaã, pronta para entrar na terra prometida. Ele lembrou: “Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará.” (Hebreus 10:37). E então encorajou-os: “Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma.” (Hebreus 10:39). Esta última exortação lembrou os leitores, e lembra-nos a nós, dos perigos que o povo de Deus tem experimentado através da história pouco antes do cumprimento das promessas divinas.

O livro de Números fala exatamente disso. O registo bíblico diz que duas vezes, pouco antes de entrar na terra prometida, Israel sofreu derrotas importantes. Na primeira vez, registada em Números 13 e 14, vários líderes espalharam dúvidas entre a congregação, o que fez com que a fé do povo de Israel falhasse. Como resultado, a comunidade decidiu nomear um novo líder e voltar ao Egipto, no momento em que estavam prestes a entrar em Canaã.

Na segunda vez, os israelitas envolveram-se com a sensualidade e a falsa adoração em Baal Peor (Números 24; 25). Embora Balaão não tivesse sido capaz de trazer maldição sobre os israelitas, Satanás usou tentações sexuais para liderar Israel na adoração falsa e no pecado, e assim trazer o desagrado de Deus sobre eles.

O apóstolo avisou os leitores de Hebreus contra os dois perigos. Primeiro, ele exortou-os a apegar-se à confissão da sua fé e a manter os olhos fixos em Jesus (Hebreus 4:14; 10:23; 12:1-4). Em segundo lugar, exortou-os contra a imoralidade e a cobiça (Hebreus 13:4-6). Finalmente, exortou-os a dar ouvidos e a obedecer aos seus líderes (Hebreus 13:7, 17).

Tendo em vista a nossa compreensão do estado dos mortos, de que quando fecharmos os nossos olhos na morte, a próxima coisa que veremos será a segunda vinda de Cristo, porque podemos dizer que todos vivem nos “últimos dias”?

Sexta-feira, 31 de Dezembro

Estudo Adicional

David A. de Silva explica porque os primeiros cristãos sofriam perseguição: “Os cristãos adoptaram um estilo de vida que [...] teria sido considerado anti-social e subversivo. A lealdade aos deuses, expressa nos sacrifícios e actos semelhantes, era vista como símbolo de lealdade ao estado, às autoridades, aos amigos e à família. A adoração às divindades era uma espécie de símbolo da dedicação aos relacionamentos que mantinham a sociedade estável e próspera. Ao se absterem do primeiro, cristãos (e judeus) eram vistos como potenciais violadores das leis e [como] elementos subversivos do império” (Perseverance in Gratitude [Eerdmans, 2000], p. 12).

“Para o desalentado há um seguro remédio — fé, oração e trabalho. Fé e atividade proverão segurança e satisfação que hão de aumentar dia após dia. Estais tentados a dar guarida a sentimentos de ansiedade ou obstinado desânimo? Nos dias mais negros, quando as aparências parecem mais agressivas, não temais. Tende fé em Deus. Ele conhece vossas necessidades; possui todo o poder. Seu infinito amor e compaixão são incansáveis. Não temais que Ele deixe de cumprir Sua promessa. Ele é eterna verdade. Jamais mudará o concerto que fez com os que O amam. E concederá a Seus fiéis servos a medida de eficiência que suas necessidades requerem. O apóstolo Paulo testificou: “E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. [...] Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Deus. Porque quando estou fraco, então sou forte”. 2 Coríntios 12:9, 10.” Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 80

Perguntas para consideração:

1. É possível ser “diferente” e ainda não ser desrespeitoso com os outros?

2. A palavra “exortação” na Bíblia pode-se referir tanto à reprovação como ao encorajamento. Que cuidado devemos ter ao reprovar alguém desanimado na fé?

3. Que semelhanças há entre a experiência dos leitores de Hebreus e a da igreja de Laodiceia (Apocalipse 3:14-22)? A nossa experiência assemelha-se à deles? O que aprendemos com isto?