21.6.07

Verde...

Um poema dos recantos da memória, que me leva aos tempos da minha infância.


Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas le están mirando
y ella no puede mirarlas.

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde...?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.

Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los montes de Cabra.
Si yo pudiera, mocito,
ese trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
dejadme subir, dejadme,
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal,
herían la madrugada.

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento, dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre! ¿Dónde está, dime?
¿Dónde está mi niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche su puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos,
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.



Federico García Lorca
2 de agosto de 1924

19.6.07

A estrada. A viagem.

O poeta americano Jack Kerouac (1922 - 1969) falava da vida que vivemos como sendo uma estrada.
Mas, dizia ele, esta estrada não é feita de alcatrão, cimento ou pedra. É feita de pessoas, lugares,
paisagens, cheiros, cores...

Passados mais de vinte anos, dizem, (queixas e desabafos à parte) a esperada ligação está aberta e
centenas de carros, carrinhos, carrões circulam nesta estrada.

Mas esperem, não é de estradas que quero falar, e sim de pessoas. Esta nossa tão aguardada A24
começa na fronteira (quase) com a Galicia, e vai rasgando serras, vales e montes, até se encontrar,
para um lado com a IP4, para o outro com a A7.

E nesta época do ano em que temos sido presenteados com dias solarengos, intercalados com dias
de refrescante chuva, e a natureza inunda os nossos sentidos com cheiros e cores tão variados, esta
estrada de alcatrão é uma via priveligiada para contemplarmos essa outra estrada de que Jack Kerouac
falava.

Entrando na A24 em Vila Verde da Raia, começamos uma viagem, não de carro ou seja o que for,
mas com os sentidos. Podemos ver as aves de rapina que sulcam os céus, não uma, nem duas, mas
três! Águias, penso eu. E a estrada continua, e os sentidos tudo bebem. E ao olhar para os campos,
os meus olhos passam dos verdes das árvores para o cinzento da pedra, exposta por esta estrada que
rasga a paisagem.

Mais uns kilometros percorridos e os meus olhos vêem a triste paisagem da terra ardida, mas a natureza
já brota beleza de si. Se eu via uns tristes paus negros que se erguem no lugar onde antes
havia pinheiros, agora vejo a serra coberta de cores. Azuis, amarelos, lilazes, tudo misturado com o
verde dos carvalhos que enchem esta serra que contemplo.

Na famosa “Carta do Chefe Índio Seattle ao grande Chefe de Washington”, lê-se: “Se o homem
cuspir na terra, cospe em si mesmo. Sabemos que a terra não pertence ao homem, mas que é o
homem que pertence à terra.”

Então, se tanto bem me faz esta beleza natural que contemplo, porque fazemos tanto mal a esta terra
que tanto bem nos quer?

Amemos a terra, demos à terra, e recebamos da terra. Se dermos mal, que esperamos então receber?
Lembro agora a triste imagem que vi à uns dias de um eco-ponto queimado. Quem lá passou sabe
do que falo. A terra, esta em que vivemos, é de todos, e é todos nós.

Mas enquanto penso nisto, entro já numa paisagem que é fronteira entre o Trás-os-Montes que amo
e o Minho que aprendi a amar. Passagem das vinhas que nos dobram as costas para as que nos
fazem subir escadas. Dos secos amarelos e castanhos para os húmidos verdes.
Terra de contrastes. Terra de beleza.

Já vejo lá ao fundo as 3 Marias, o Monte Farinha, a Senhora da Graça. A minha viagem, a de alcatrão,
chega ao fim. A outra, a de pessoas, lugares, paisagens, cheiros e emoções, essa continua,
sempre e cada vez mais.